Em 2012, os portos brasileiros devem movimentar, pela primeira vez, um bilhão de toneladas em cargas, 12,3% mais que no ano passado, segundo estimativa da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Na esteira deste número recorde, muitas mudanças devem ocorrer: o Rio, por exemplo, tende a alcançar a liderança no ranking dos estados com maior movimentação de carga marítima, desbancando o Espírito Santo. Hoje, ele ocupa o segundo lugar, seguido por São Paulo. Parte deste crescimento se deve aos investimentos que voltaram ao setor. Diversas empresas anunciaram novos terminais, como os portos Sudeste, em Itaguaí, e Açu, no Norte Fluminense - ambos do grupo de Eike Batista -, além de projetos da Petrobras, da Gerdau e da CSN.
- Há um bom momento para o setor, que ganhou investimentos privados depois que o governo realizou uma grande frente de dragagem. Vemos avanços em todas as áreas, mas o crescimento maior é na movimentação de contêineres, que levam produtos com maior valor agregado. Se o bilhão de toneladas não for atingido em 2012 será por pouco. Também acredito que para o Rio assumir a liderança nacional é uma questão de tempo, devido a diversos projetos industriais e, principalmente, à exploração do pré-sal - afirma Fernando Fialho, presidente da Antaq.
Leônidas Cristino, ministro especial dos Portos, confirma esse bom momento. Para ele, o cenário mudou a partir de 2005, quando o governo retomou os investimentos no setor. Passada a fase de dragagem, Cristino afirma que o momento é de investir em gestão para "ampliar a capacidade dos portos sem a necessidade de novas obras".
- Estamos investindo mais de R$ 553 milhões em projetos de inteligência, como o Porto Sem Papel, o Carga Inteligente, que permite um acompanhamento de navios e caminhões, para que as cargas cheguem no momento certo aos terminais reduzindo os congestionamentos, monitoramento de navios e controle de resíduos dos portos - diz o ministro.
Cristino reconhece, contudo, que ainda há muita coisa a ser feita: - Hoje, 61% da carga nacional são transportadas pelo modal rodoviário, 21% pelo ferroviário e 14% pelo aquaviário. Nosso objetivo é ter, em 2025, uma distribuição mais igualitária entre estes modais, entre 25% e 30%, deixando o restante para o dutoviário e aeroviário. Temos que avançar muito.
Um dos pontos que merecem destaque é a cabotagem, ou seja, a movimentação marítima de mercadorias entre portos brasileiros. Cristino afirma que o governo pode criar incentivos para isso.
- Não faz sentido o Brasil ter duas rodovias translitorâneas, as BRs 101 e 116. Estamos estudando formas de se incentivar a cabotagem, inclusive com a criação de píeres dedicados a navios que circulem pelo Brasil - diz, lembrando que, além de retirar caminhões da estrada, a cabotagem ajuda a reduzir a emissão de gases poluentes.
Paulo Fleury, diretor do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), afirma que o avanço a um bilhão de toneladas de carga movimentada nos portos brasileiros, por si só, não deve ser comemorado:
- Nosso volume é, grande parte, de minério de ferro. Todo o país movimenta cerca de cinco milhões de contêineres, que são os produtos com maior valor agregado. Alguns portos chineses, sozinhos, movimentam mais de dez milhões de unidades.
Ele lembra que, embora alguns projetos comecem a ganhar forma e os portos públicos tenham ganhado investimentos nos últimos anos, o crescimento também gera uma outra preocupação: portos mais movimentados e navios maiores expõem carências no armazenamento de produtos e, principalmente, nos acessos terrestres aos portos, que podem ter sua expansão estrangulada por estas deficiências. Ainda assim, Fleury afirma que ocorreram avanços nos últimos anos:
- Excluindo a frota da Petrobras, que usa seus terminais para transportar combustíveis entre os estados, dobrou a frota de navios que fazem cabotagem em cinco anos.
Rui Botter, professor de especialização de logística da Fundação Vanzolini, afirma que parte destes novos portos e terminais são consequência do crescimento da exportação de commodities. Ressalta, porém, que há muitos problemas, como a demanda reprimida, e que deveria haver mais discussão para tornar os atuais terminais mais eficientes e capacitados:
- Criar um novo porto ou terminal pode ter um impacto ambiental elevado. Então, talvez seja melhor recapacitar e modernizar os atuais.
O recente vazamento de óleo em praias de Angra dos Reis mostra que o setor precisa, ao alavancar os investimentos, ampliar a preocupação ecológica.
- As licenças ambientais obtidas atualmente são protocolares. Não há uma preocupação muito forte com a segurança - afirma Leandra Gonçalves, coordenadora de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.
Ela diz que novos portos, como o Porto Sul, na Bahia, e o Porto do Açu, de Eike Batista, estão sendo construídos em locais ambientalmente sensíveis e com corais ameaçados de extinção.
- O que me preocupa é que grande parte destes superportos foram aprovados sem grande discussão - diz a ambientalista.
Fonte: Agência O Globo, por H G Batista
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